Quando falamos de Yoga, normalmente nos referimos às práticas de yoga que conhecemos na atualidade. Mas o termo Yoga é bastante histórico e com uma gama variada de definições segundo os textos e tradições antigas. Conhecendo essa ampla variação do termo Yoga, podemos entender melhor seus diversos significados e impactos.
Yoga é uma palavra sânscrita (uma língua antiga usada na Índia, Paquistão, Bangladesh, entre outros) bastante polivalente. Pode significar unir e anexar, pode ser um meio, um método, pode ser um truque, um lucro, um negócio ou empreendimento, pode dispor ou ordenar, adequar, trazer diligência ou magia. (Livro “As Raízes do Yoga”, Mallisson e Singleton).
Existem muitos textos importantes que mencionam a palavra yoga. Podemos citar que um dos mais antigos textos, a Katha Upanisad ( século III a.c.), onde encontramos uma primeira menção ao Yoga (6.11). Nesse texto, há um diálogo entre o menino Naciketas e Yama (o deus da morte) e uma analogia entre viver como um ser humano e conduzir uma carruagem. O corpo é a própria carruagem, o “eu” é o condutor da carruagem, o “intelecto” é o cocheiro, a mente as rédeas, os sentidos são os cavalos e os objetos dos sentidos são os caminhos. Ao controlar os sentidos por meio da mente, o indivíduo se torna não distraído, e neste caso, o yoga é o falecer, é o não renascer.
Já na obra Bhagavadgita, traz o Yoga como equanimidade, uma habilidade na ação e separação. Abandonar o apego, separar o contato com o sofrimento, é uma habilidade de ação segundo o texto.
No texto Mahabharata (século I à III d.c.), traz um conceito de Yoga como poder. Onde não há nenhum conhecimento equivalente ao Sankhya ( antiga filosofia dualista Indiana) e nenhum poder equivalente ao Yoga.
Já no mais conhecido texto, os Sutras de Patanjali ( Patanjalayogasastra) yoga é a supressão das atividades da mente. Segundo o texto, os estados da mente são distraído, confuso, agitado, focado e contido. Quando a mente se encontra em um único ponto, faz com que o objeto brilhe como realmente é, e corta aflições, afrouxa as amarras do karma e orienta na direção da supressão. Aqui o yoga é dito com cognição.
Pode parecer confuso à princípio tantas definições e formas de se referir o yoga, mas temos que lembrar que nesses textos bastante antigos ( e com datas nem tão precisas assim), ainda existiam as influências de tradições, religiões, escolas, filosofias e rituais das épocas. Existiam adorações a deuses, mantras, entendimento sobre a concepção de corpo e mente bastante diferenciadas.
Mais tarde surge ainda o Hatha Yoga (primeiro milênio da era atual). O Hatha é ensinado pela primeira vez no texto Dattatreyayogasastra (século III). Os métodos são deduzidos dos Sutras de Patanjali e do Yoga Tantra, e onde temos práticas físicas não encontradas nesses textos. Essas práticas incluem purificações, posturas não-sentadas, métodos de respiração mais complexos, e mudrás para manipular a energia vital. Aqui o termo “hatha” significa “força”.
Além das definições encontradas nos textos antigos, podemos entender o Yoga como um “estado”, cujo alcance é o objetivo das práticas e é de longe o mais comum (por isso usamos o termo “praticar” yoga).
E temos o Yoga como um “meio”, um “método”. Aqui podemos entender que se alcança o Yoga através de métodos como Karmayoga (por meio das ações), Bhaktiyoga (através da devoção), Mantrayoga (através da recitação de mantras), entre outros.
Além dessas definições do yoga, em diversos textos temos os “auxiliares” ou “membros” quando o yoga significa o objetivo ao invés do método. São formas auxiliares para alcançar o yoga. Esses foram classificados em 4, 5, 6, 7, 8 e até 15 partes, dependendo do texto.
Provavelmente o mais conhecido atualmente são os 8 membros do Yoga de Patanjali: yamas, nyamas, ásanas, pranayamas, pratyahara , dharana, dhyana e samadhi (respectivamente: regras, observâncias ou comportamentos, posturas, controle da respiração, recolhimento dos sentidos, concentração ou fixação, meditação e o samadhi – “estado de yoga”).
Gosto de pensar que o Yoga é plural. Com diversos contextos tradicionais e modernos. Com influências religiosas antigas, tradições e culturas.
E quando tentamos “reduzir” ou “encaixar” o yoga numa determinada definição, perdemos muito deste significado tão amplo, diverso e adaptativo.
Importante destacar que o Yoga é uma grande filosofia. Com textos que trazem essa base de conhecimentos históricos. Estudar e conhecer é de grande valia, nos possibilitando entender conceitos que vão além do corpo, da matéria, dos sentidos. Mas todo esse vasto conhecimento não vale de nada se não experimentamos e praticamos. Yoga é sobretudo uma prática pessoal. Que nos possibilita o entendimento não somente de quem somos, mas do universo que nos rodeia e como tudo está interligado.
Para maiores informações leiam o Livro “Raízes do Yoga” (James Mallinson e Mark Singleton) – Editora Svarupa (2022)
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